Mulheres Diretoras em Goiás

O cinema brasileiro tem uma história rica na contribuição feminina, que começou a se destacar entre as décadas de 1930 e 1940. Cléo de Verberena, conhecida como Jacyra Martins, foi a primeira mulher a dirigir um longa-metragem silencioso, "O mistério do dominó preto", em 1931, também atuando como protagonista. Nos anos 40, diretoras como Carmem Santos, Gilda Abreu e Gita de Barros emergiram na indústria, muitas delas também escrevendo seus roteiros.

A trajetória das mulheres cineastas foi marcada não apenas pela desigualdade de gênero, mas também pela desigualdade racial. Adélia Ferreira Sampaio, a primeira mulher negra a dirigir, lançou o curta "Denúncia Vazia" em 1979 e o longa "Amor Maldito" em 1984, sendo notável por abordar um romance entre mulheres. No entanto, seu filme enfrentou boicote e foi exibido em cinemas de filmes pornôs, reflexo de racismo e lesbofobia na época.

Sabrina Rosa retornou à direção de longas ficcionais em 2011, seguida por Viviane Ferreira em 2020. Embora Adélia Sampaio tenha sido a pioneira, ainda há uma carência de pesquisas sobre as contribuições de mulheres cineastas fora das principais regiões do Brasil.

Cici Pinheiro foi a primeira mulher negra em Goiás a dirigir um longa-metragem de ficção. Ela começou a filmar "O Ermitão do Muquém" entre 1966 e 1967, mas o projeto não foi concluído devido à falta de apoio financeiro. Após essa iniciativa, Rosa Berardo dirigiu o primeiro curta-metragem de ficção de uma mulher em Goiás, chamado "André Louco", lançado em 1990. Berardo realizou mais de 30 filmes, incluindo documentários, animações e longas-metragens.

Após o lançamento de André Louco em 1990, em 1995, Mazé Alves estreou com o documentário Vídeo book Danielle Gouthier. Em 1999, Flávia Neves fez sua estreia no 1º FICA com Liberdade, enquanto Luciana Santos Martins dirigiu o documentário H²O = Vida e Rochane Torres lançou A multiplicação das flores. No final do século XX, apenas 8 mulheres haviam dirigido filmes em Goiás.

A partir de 2001, o cenário mudou drasticamente, com 131 mulheres dirigindo 306 filmes até 2022. Nas primeiras duas décadas do século XXI, as diretoras se tornaram mais ativas. De 2001 a 2010, 39 mulheres estrearam, incluindo Adriana Rodrigues e Ivana Veiga, entre outras. Contudo, o maior crescimento aconteceu entre 2011 e 2020, quando 65 mulheres estrearam na direção de filmes. Este aumento se deve em parte à criação de cursos e oficinas relacionadas ao cinema, como o Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás, inaugurado em 2006, e no Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, aberto em 2010.

Esses cursos, juntamente com festivais e mostras de cinema, ajudaram a motivar e formar novas cineastas. Mesmo assim, nem todas as diretoras mencionadas realizaram formação formal em Cinema e Audiovisual. A diretora Fabiana Assis apontou que a abertura de cursos de cinema teve um papel crucial na mudança do cenário cinematográfico goiano, que começou a ganhar destaque em âmbitos nacional e internacional.

Na terceira década de 2000, entre 2021 e 2022, 19 novas diretoras estrearam. O crescimento contínuo da direção feminina no cinema de Goiás evidencia um avanço importante na representação do gênero na área.

O cinema brasileiro tem visto, portanto, um crescimento no reconhecimento de mulheres cineastas, mas ainda há um longo caminho a percorrer para dar visibilidade equitativa a todas as vozes, especialmente as de mulheres negras.