Mulheres que dirigem filmes em Goiás
A tese que deu origem ao documentário
Desde 1966, as mulheres dirigem filmes no estado de Goiás. No entanto, sabe‐se que elas foram apagadas ou apareceram como coadjuvantes nos escritos de cinema dos autores homens. Ainda são poucas as pesquisas acadêmicas que investigam o cinema feito em Goiás, sobretudo se o critério for tese escrita acerca deste assunto e, ademais, redigida por uma autora mulher e negra que revele o seu olhar feminista quanto às questões que envolvessem gênero e raça no cinema nesta região brasileira. A pesquisa exploratória, centrada em narrativas de si, processos de criação e na experiência de ser mulher que trabalha no cinema contemporâneo, apresenta, num quadro descritivo, 131 mulheres que dirigiram filmes no estado de Goiás. Este número representa um total de 306 filmes produzidos de 1966 a 2022.
É importante considerar que a designação diretora, utilizada e apresentada aqui, não se refere apenas à cineasta que construiu uma carreira ao longo dos anos, reconhecida em importantes festivais, ou pela produção de filmes sofisticados; diretora, nesta pesquisa, é a mulher que exerceu essa função, ainda que o filme tenha sido feito de forma simples ou até mesmo apresentado em cineclubes ou em espaços culturais. Duas pioneiras do cinema em Goiás – Cici Pinheiro e Rosa Berardo, e o processo de criação de seus filmes, respectivamente: o inacabado e desaparecido O Ermitão do Muquém e André Louco (1990) – revelam o início da história das diretoras de Goiás. Examina‐se a questão fenotípica da multiartista Cici Pinheiro, reconhecendo‐a como uma mulher negra, sabendo que a sua questão racial nunca havia sido debatida em nenhum escrito anterior que tratou dela. Cici Pinheiro, se embrenhou na direção de um longa‐metragem de ficção em 1966, antes mesmo da mulher negra e cineasta mineira Adélia Sampaio, o que precisa se relevado, ainda que o filme de Cici Pinheiro não tenha sido finalizado. Dá‐se atenção especial, ainda, às mulheres que fizeram a direção geral de animações, em razão da raridade disto em Goiás, e às diretoras mulheres negras e indígenas, pela mesma razão, mas também, pelo recorte racial da pesquisadora, uma mulher negra autora e por trás da câmera.
Algumas diretoras foram entrevistadas com profundidade, outras responderam a um questionário semiestruturado, gravado, para a composição do documentário: Mulheres que dirigem filmes em Goiás, motivador desta pesquisa, no qual é narrado o processo de criação de seu feitio, e foram retratadas as diretoras: Ana Luíza Reis de Sá, Cris Ventura, Marta Kalunga, Silvana Beline e Rosa Berardo. No texto, priorizou‐se autoras mulheres e, em especial, as autoras de cinema que publicaram recentemente as coletâneas: Holanda e Tedesco, 2017; Silva, C., 2017; Holanda, 2019; Lusvarghi e Silva, 2019; Tedesco, 2021 e Martins, R., 2021. Arquivos de museus, catálogos impressos e on‐line, jornais, sites diversos, antigos blogs, YouTube, Vimeo, currículos e redes sociais das diretoras foram consultados para o levantamento de dados. Portanto, esta pesquisa é uma contribuição aos estudos que tratam da mulher e da História das Mulheres de Cinema do Brasil e de Goiás.